Esse primeiro post é para explicar o nome do blog e o motivo de ele existir.
Do começo:
Hoje eu tenho 27 anos, mas quando eu tinha 15 anos descobri-me diabética. Imaginem só a situação: adolescente, às vésperas do vestibular, alimentação péssima e totalmente sedentária. Eu me alimentava de forma muito errada, meus pais permitiam que eu comesse tudo o que eu quisesse, então eu tinha 3 variações de pratos que eu intercalava entre almoços e jantares: dois pratos fundos bem cheios de arroz, feijão, 5 salsichas fritas com lâminas de alho e uma lata inteira de atum sólido em pedaços; outra opção eram dois pratos fundos bem cheios de arroz, feijão, 4 hamburgueres fritos, um tomate em rodelas frito na mesma gordura dos hamburgueres, nevados de sal por cima e de 5 a 8 colheres de sopa cheias de maionese; e, a última variação, dois pratos fundos bem cheios de arroz, feijão, uma lata (inteira) de kitut/fiambre frito cortado em fatias e de 5 a 8 colheres de sopa cheias de maionese. E ainda tinha o café-da-manhã, que era quase sempre dois pães franceses recheados com mortadela frita com queijo e mais uma xícara de chá de café, uma xícara de chá de leite com achocolatado e mais uma xícara de chá de chá verde (japonês). Nos lanchinhos entre as refeições, comia quadradinhos de chocolate, cubinhos de doce-de-leite, paçoca ou no café-da-tarde, repetia a dose do café-da-manhã, quando não devorava um prato fundo cheio de farinha láctea ou quando não abria uma lata de leite condensado e comia inteira de colher. Isso sem falar, que muitas vezes acordava de madrugada para comer com o meu irmão, daí eram 3 hamburgueres pra cada um, ou um sanduíche gigante de mortadela com queijo pra cada, ou ainda um pacote de miojo, sem o caldo, temperado com muita manteiga, sal, pimenta do reino e curry! E quase esqueci... (risos) na época eu ainda estava no segundo grau, nos intervalos de aulas eu comia coxinha de frango e uma barrinha de "Nescau Cereal".
Deu pra sentir o drama???
Uns 3 anos depois de descobrir a minha diabetes, descobrimos a diabetes da minha mãe. Lógico que ela se alimentava um pouquinho melhor do que eu porque às vezes ela incluia legumes e verduras, mas em geral eram boiando no óleo! E ela nunca dispensou um torresmo, uma picanha com gordura beeeem grande, bacon, ovos fritos, pastéis, isso sem falar que ela era louca por massas: 3 pães franceses pela manhã, mais uns 2 na parte da tarde, o pratão de arroz bem cheio nas refeições e às vezes somava a isso a batata, o macarrão, o nhoque e o que mais estivesse pela frente.
Aproximadamente 5 anos depois da descoberta da minha diabetes, meu irmão faleceu aos 28 anos de idade, de infarto. Só pelo "lanchinho da madrugada" que nós comíamos juntos, já deu pra ter uma ideia da alimentação dele, né?! E mesmo ele sendo um esportista, não compensou muito, porque a alimentação dele conseguia ser bem pior do que a minha e ele fumava demais.
Hoje sou MUITO GRATA à minha diabetes, pois se não fosse por ela, eu tenho certeza que eu não chegaria nem aos 30 anos de idade. Graças à diabetes, comecei a cuidar melhor da minha alimentação. E anos mais tarde, graças ao meu namorado passei a cuidar ainda melhor da minha alimentação e venci a inércia, deixei de ser sedentária, fui fazer exercícios físicos.
No ano passado meu pai infartou, bem na época da missa de 7 anos da morte do meu irmão (os japoneses fazem missa de 7 em 7 dias até a missa de 49 dias, depois tem a de 100 dias, daí fazem a de 1 ano, a de 3 anos, 7 anos, 13 anos, 17 anos, 23 anos, 25 anos, 27 anos, 33 anos e 50 anos). Mas no caso do meu pai, só fomos descobrir que ele teve um infarto 5 meses depois, quando ele foi pela primeira vez em 65 anos, numa cardiologista e a mulher quase teve ela um troço quando viu os exames do meu pai. Segundo os vários médicos que procuramos, o fato de o meu pai ser diabético (sim, foi desse jeito que descobrimos que ele também é diabético), amenizou as dores do infarto e por isso ele infartou durante duas semanas inteiras, achando que estava só com dores de estômago e um incômodo no braço "por ficar muito tempo deitado apoiado naquele braço"! Desde então, sob a ameaça de um novo infarto que pode ser fatal, alteramos TOTALMENTE a alimentação na minha casa. Sim, porque ele é muito teimoso e achava que eu era muito saudável até os meus 15 anos porque eu "comia muito bem" e agora com essa história de dieta, estava ficando franquinha, doentinha etc. Ele nunca aceitou nenhuma mudança na alimentação na minha casa, porque como ele nunca tinha ido a um médico sequer na vida, achava que ele não tinha nenhum problema de saúde e por isso o jeito dele de se alimentar estava certo e que eu tinha que tomar tantos remédios para a diabetes justamente porque eu não estava mais me alimentando como antes. Com essa coisa do infarto eu consegui provar pra ele que ele estava errado!
Na minha casa não entra mais óleo (exceção ao azeite de oliva extra-virgem e ao óleo de semente de uva). Ensinei minha mãe a cozinhar sem usar absolutamente nenhuma gota de óleo, pois o azeite de oliva é somente para regar cru sobre a comida e o óleo de semente de uva é para o molho de salada (porque por algum motivo muito estranho os meus pais não gostam muito do azeite de oliva!!) e só. Adquiri o hábito de ler todas as embalagens de todos os produtos antes de comprá-los, vejo as proporçõe dos ingredientes, comparo as tabelas nutricionais e escolho tudo o que entra e o que não entra no nosso carrinho de compras. Além disso, fiquei com muita dó do meu pai, porque sei que ele sempre foi um formigão e que ele não vive sem doces. Ele parou de fumar (fumava desde os 7 anos de idade!), ele parou de comer gorduras, frituras e todo o tipo de coisas com alto teor de gorduras (principalmente as saturadas), mas ele sente muita falta de doces. Então, decidi fazer algo que eu ainda não tinha feito por mim e pela minha mãe, pelo simples fato de que para nós duas, doces não nos fazem falta: comecei a criar e adaptar receitas de doces para que o meu pai possa comer. Depois passei a me aventurar nas receitas salgadas também.
Já há 5 meses, os exames de sangue de toda a minha família (meu pai, minha mãe, minha tia - que mora com a gente -, e eu), estão PERFEITOS! Conseguimos controlar as glicemias, nossos valores de hemoglobina glicosilada estão ótimos, e os colesteróis todos estão espetaculares (o que precisa estar baixo está muito baixo e o que precisa estar alto está super alto!). Sinal de que as mudanças na alimentação e que as minhas receitinhas têm funcionado mesmo! E cada vez me empolgo mais nas minhas pesquisas, tenho lido artigos em sites internacionais e nacionais de profissionais especializados em doenças cardíacas, diabetes e nutrição.
Assim eu descobri que para ficarmos lindas, com a pele bonita e um corpo legal, a gente precisa começar a mudar de dentro pra fora. Primeiro tomar consciência de que é preciso se cuidar; segundo, começar de fato a se cuidar e ter disciplina; terceiro não se preocupar se algo engorda ou emagrece, porque a melhor dieta não é a de emagrecer, mas sim, a de ficar saudável.
Hoje a minha família está saudável, feliz e linda, em todos os aspectos possíveis. Ninguém aqui está fazendo dieta de emagrecimento, apenas estamos melhorando os hábitos alimentares, substituindo carne bovina por suína, caprina, de peixe e de frango; abolimos os óleos que saturam; substituimos o açúcar por sulcralose; e passamos a comer uma variedade muito maior de legumes, verduras e frutas e com mais frequência. E o melhor é que nos últimos 5 meses, minha mãe perdeu 7Kg, minha tia perdeu 6Kg, meu pai perdeu 11Kg e eu perdi 3Kg (e antes que alguém aí diga que eu estou roubando, já vou me defender dizendo que antes mesmo de descobrirmos o problema cardíaco do meu pai, eu era a única pessoa da casa que, de fato, já seguia uma dieta mais saudável, por conta da minha diabetes).
Desculpem o post gigante, mas acontece que a história era mesmo longa... Espero que gostem das minhas receitas, comentem, critiquem, dêem sugestões e que consigam também, ter uma vida mais saudável.
